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Voltar | FundoSobre Hoppe ter refutado Rothbard, e Rothbard ter reconhecido isso.
2017 Sep 23, at 4:23pm - by xffa
Coluna "Libertarian quantum superposition: The ANCAP cat".
Verdadeiramente, ha apenas um tipo de pessoa: os que compreendem logica booleana.
Latinoware 2017 Proceedings. Students for Liberty.
Hackers for Liberty [nontech conference track].
Publicado em 2017 Sep 23, at 4:23pm | 18 comments by Autor Convidado
por Patrick Tracanelli [https://2017.latinoware.org/patrick-l-tracanelli/]
=> Sobre Hoppe ter refutado Rothbard, e Rothbard ter reconhecido isso.
Essa é uma posição frequentemente oferecida e não raramente defendida por libertários brasileiros, mas raramente por libertários razoáveis no resto do mundo, nem mesmo pelos que se declaram Hoppeanos e ético-argumentativistas acima de tudo. O que faz todo sendo pro segundo grupo, pois a ética argumentativa de fato pacifica e se coloca precedente a diversos axiomas Rothbardianos e Lockeanos. Ou seja os Hoppeanos sérios não precisam de falácias ou apelos à autoridade para colocar a ética argumentativa como uma posição melhor e mais aceitável que algumas proposições Rothbardianas, Lockeanas, Randianas ou de outros autores libertários, pois está pacificado, a ática argumentativa é precedente.
Oras, então, eu estou em contradição, se estou reconhecendo que a EA precede as teorias e propostas Rothbardianos e Lockeanos, como então não foi Rothbard refutado? Simples, Hoppe demonstrou a mesma verdade que Rothbard, de uma forma perene que precede Rothbard e Locke.
Vamos então direto ao ponto. A confusão (e as vezes maldade intencional) se da com base em artigo entitulado “Beyond and Ought”, texto de Murray N Rothbard, publicado na Liberty Magazine em Novem de 1988 na página 44 dessa publicação.
Pois bem, no texto, Rothbard com todas as palavras reconhece que estava errado e Hoppe estava certo, ele diz “(…) remarkably and extraordinarily, Hans Hoppe has proven me wrong (…)."
Mas, Rothbard aceitou uma refuta sobre o NAP (Nonagression Principle) ou aborto, ou qualquer outro tema?
Não, o contexto é absolutamente outro, e é ai que está a deturpação intencional de muitos e confusão por falta de detalhes sobre o assunto. O contexto completo dos fatos, é:
Most economists would not be caught dead with an ethical system or principle, believing that this would detract from their "scientific" status.
And yet, remarkably and extraordinarily, Hans Hoppe has proven me wrong. He has done it: he has deduced an anarcho-Lockean rights ethic from self-evident axioms
Rothbard defendia que era impossível derivar éticas jusnaturalistas pockeanas puramente através de lógica a priori. E que a maioria dos economistas (incluindo Rothbard ele próprio, reconhecidamente o pupilo mais genial de Mises, em palavras do próprio Mises) não aceitariam um sistema ético ou um princípio, ja que isso diminuiria sua derivação de um status científico. E Rothbard concordava com essa perspectiva econômica acerca da impossibilidade de derivar ética jusnatural lockeana através de demonstrações lógicas, ou seja, através de jusracionalismo.
Foi então que Hoppe, com sua genialidade, e através da ética argumentativa, demonstrou, e Rothbard aceitou que todos esses economistas, incluindo Rothbard ele mesmo, estavam errados. E Rothbard não se poupa aos elogios:
“Por mais de 30 anos eu venho dizendo a economistas, que isso não poderia ser feito. Que economistas não conseguem chegar a nenhuma conclusão política. E a maioria parte dos economistas não aceitariam um sistema ou princípio ético, por acreditarem que isso os diminuiria de seus status como cientistas. (…)” (cientistas políticos) “(…) E ainda assim, de forma memoriável e extraordinária, Hans Hoppe provou que eu estava errado. Ele conseguiu: deduziu uma ética de direitos anarco-Lockeanas a partir de axiomas auto-evidentes.”
Logo, não existe refuta ou reconhecimento que o NAP estava errado ou que estupro é errado ou nenhuma outra interpretação a não ser a literal: o reconhecimento da possibilidade da ética dos direitos lockeanos serem deduzidas de forma auto-evidente, mesmo por economistas ao se apoiarem nos direitos Lockeanos de propriedade. Incluindo Mises uma gama notável de economistas e filósofos austríacos.
Portanto, é o reconhecimento do jusracionalismo sobre o jusnaturalismo Lockeano. Da ética da liberdade como uma ética derivada de uma lógica auto evidente.
Tendo pacificado esse ponto, vamos esclarecer pontos complementares sobre os temas mais controversos onde a falácia da refuta de Rothbard por Hoppe e o reconhecimento de Rothbard são repetidos mil vezes, tentando tornar verdade uma mentira repetida frequentemente.
Murray N. Rothbard nunca reconheceu que estava errado sobre o aborto e a precedência da liberdade da mãe em decidir se interrompe a gestão, se continua mesmo não querendo a criança e depois abandona ou troca no livre-mercado de crianças, se continua e abandona a criança ou se continua e tutela a criança como sua. Rothbard nunca mudou sua posição e não reconheceu que Hoppe estava certo. E quem diz isso não sou eu, nem outra pessoa mais relevante, senão o próprio H3, ou seja quem diz isso é Hans Hermman Hoppe himself, na introdução da reedição de 2002 da Ética da Liberdade de Rothbard. Só pra alinhar: A Ética da Liberdade, uma das obras de maior sucesso na biblioteca austro-econômica, foi reeditada em 2002. Rothbard já havia falecido. Hoppe, ainda vivo hoje quando escrevo esse post (Setembro 2017) resolveu então escrever a Introdução da reedição da obra de Rothbard. Rothbard, o autor mais genial dentre os alunos de Mises, e Hoppe, sempre foram amigos pessoais, e sempre reconheceram que suas obras se auto-completavam. Rothbard defendeu Hoppe diversas vezes, e o enalteceu, mesmo quando era um jovem autor ainda. E Hoppe por sua vez citou e se apoiou em Rothbard como um manco em uma muleta diversas vezes, inclusive ao apresentar sua tese, “The Ultimate Justification of the Private Property Ethic”.
Pois bem, em 2002, Rothbard já morto, ambos autores já consagrados e anos de amizade depois, H3 escreveu a introdução da reedição da Ética da Liberdade, de Rothbard, e claro que isso torna a reedição uma obra ainda mais importante que o original, pois agora tem o conteúdo de Rothbard ponderado, introduzido, por Hoppe. Mas não como uma introdução apenas como homenagem póstuma ou um desses “prefácios” encomendados de um autor falando sobre outro. Não. A introdução vai da página xi (11) xliii (43). São 32 páginas de conteúdo original, inédito, e inclusive com pensamentos e proposições novos, de Hoppe, derivados de pensamentos de Rothbard. E claro algumas passagens que ajustam e colocam alguns pingos nos ís, o que me traz de volta ao ponto, H3 diz que Rothbard:
“Até o fim de sua vida ele não cederia sobre as questões do aborto e da negligência infantil, e insistiu em um direito legal (legítimo) absoluto da mãe a um aborto e à deixar seus filhos morrerem.”
Portanto, não há aceitação de refuta, reconhecimento que estava errado, nem que Hoppe estava certo. Até sua morte Rothbard não cedeu. Screenshot do original anotado abaixo.
Nas linhas seguintes, Hoppe esclarece que Rothbard não era abortista e defendia em obras que viriam depois da Ética da Liberdade, uma postura mais conservadora, mas não aceitaria intervenção por centralização sistemática de poder estatal, defendendo a liberdade da mulher abortar em última instância, ou seja defendia a liberdade e não que era certo. Mas dizia que qualquer tentativa do estado de impedi-la seria errado. Como no caso Roe vs Wade na Suprema Corte americana.
Além disso, como poderia Rothbard reconhecer estar errado sobre o tema e concordar com Hoppe, se na verdade, Hoppe também reconhece a autoridade da mãe e da família e sua liberdade acerca do aborto? Exatamente, segundo Hoppe, não há uma elaboração ética fundamental, temos que recorrer a liberdade ética individual e a autoridade da família. Hoppe verbalisa isso, “Family matter, disputed and decided within the family”, gravado em vídeo, e que a decisão deve ser respeitada por ter sido feita pelas pessoas direta e indiretamente afetadas. Assista o vídeo e note ainda quantas vezes e como Hoppe cita a mãe, a mulher (mother, woman) como autoridade na decisão da questão. Uma completamente compatível com Rothbard, Locke e Rand, ainda que levemente diferente de Rothbard que reconhece na mãe a liberdade da decisão, Hoppe a autoridade autoridade familiar, tendo a mãe como principal argumentadora sobre essa decisão. Tal qual Rothbard, Hoppe é enfático suportar que o único errado é o estado, ao tentar proibir, ao conceder total direito, ou ao tentar se intrometer de qualquer forma no assunto, que é uma questão familiar e individual.
Outro ponto é sobre o NAP (Nonagression Principle). O NAP é uma teoria que precede Rothbard, de novo, é remetido à John Locke e a própria Ayn Rand que só aceita a agressão como uma reação, punição defesa, à uma agressão original. Ocorre que Rothbard se apoiou e redefiniu o NAP sob diversos aspectos, e em 1949, Rothbard cunhou o termo Anarco-capitalismo como uma variação do anarco-individualismo, apoiando no princípio da não agressão como valor fundamental.
Mas o NAP foi refutado, reconhecido como falho ou errado, por Rothbard? Não. Acontece apenas que ao longo do tempo, o NAP (PNA no Brasil) é um conceito em constante evolução e melhoria, de John Lock, à Rand, Rothbard e Hoppe, a mesma ideia central se modificou, foi aprimorada e polida. O NAP nos direitos Lockeanos não é o mesmo de Rand nem de Rothbard nem de Hoppe. Hoppe é um autor mais recente, ganhou destaque em 1988 quando desde 1949 Rothbard já havia cunhado a idéia do anarcocapitalismo fortemente respaldado no NAP.
A evolução natural, e não refuta, que aconteceu com o reconhecimento da ética argumentativa como um axioma perene de auto-propriedade, depois extrapolando para a propriedade sobre outros bens, posses e produtos, é jusracionalista. Dessa forma precedente à abordagens jusnaturalistas como as Lockeanas ou Rothbardianas. Ou seja há sim uma redefinição de princípio perene, vejam de novo o que estou dizendo aqui: há uma redefinição de princípio perene! Isso é muito raro! Desde filósofos como Plantão, Kant, ou mesmo descartes com seu “Penso, logo existo”, redefinição de axiomas éticos são raros, aconteceram poucas vezes entre pensadores de épocas e gerações diferentes, normalmente com séculos de distância entre os pensamentos, e e entre Rothbard e Hoppe, aconteceu com poucas décadas de distância com ambos ainda em vida. Ou seja a ética argumentativa, como uma evolução inédita (lógica) e uma precedência do de verdade fundamental (axioma), é ao mesmo tempo uma combinação de eventos raros e inéditos.
Hoppe não refutou, não tornou o NAP errado ou em desuso. Ao contrário, aprimorou e o lapidou. Reforçou por meio da evidência da autopropriedade via ética-argumentativa que o princípio é perene jusraciomalmente, não apenas jusnaturalmente. Ou seja há precedência. Na melhor das hipóteses, o NAP não deve ser usado como princípio, sob o sentido de princípio como “verdade fundamental”, mas continua sendo um princípio sob o sentido de princípio como um valor usado como ponto de partida, uma proposição inicial, para a moral e decisões éticas individuais.
Principle:
A fundamental truth or proposition that serves as the foundation for a system of belief or behavior or for a chain of reasoning.
Portanto NAP como “Nonagression fundamental truth” não é adequado, mas como “Nonagression proposition”, é sim um princípio libertário reafirmado através dos tempos.
No artigo “Fallacies of the Public Goods Theory and the Production of Security by Hans-Hermann Hoppe Depamnent of Economics, Universiry of Nevada, Las Vegas” publicado no The Jorunal of Libertarian Studies, em 1989, Hoppe continua reconhecendo, aceitando e usando o NAP, inclusive em favor da ética augmentativa, por exemplo:
“The principle of nonaggression is thus the necessary precondition for argumentation and possible agreement and hence can be argumentatively defended as a just norm by means of a priori reasoning.”
Onde H3 defende que o princípio da não agressão é uma condição previamente necessária para a argumentação e possível acordo entre as partes, e que portanto pode ser defendida argumentativamente como uma norma justa à priori do raciocínio.
De novo, Hoppe coloca o NAP como uma norma justa à priori (que antecede) do raciocínio.
Como o raciocínio é requisito pra argumentar, mas o requisito que o precede é a capacidade de controlar o próprio corpo (a mente, pensamento, até buscar um raciocínio), o axioma da propriedade demonstrado na ética argumentativa precede o NAP que por sua vez é um ponto de partida (princípio deôntico) pra uma norma justa precedendo o raciocínio.
Corpo (recurso escasso) => Controle sobre o recurso escasso => Homestead (quem ocupa, delimita e defende/protege aquele recurso escasso sob seu controle) => NAP => Raciocínio => Argumentação => Expressão da Argumentação.
De tal forma o NAP não só ainda deve ser utilizado, mas deve ser utilizado não mais como axioma, princípio, no sentido de verdade fundamental perene pois Hoppe demonstrou que não era perene, demonstrou que algo precede esse princípio. Portanto é adequado continuar usando o NAP apoiando a propriedade, e a “lei” da propriedade demonstrada por Hoppe via ética argumentativa. Uma lapidação do NAP, um princípio libertário em constante evolução através dos tempos e filósofos diversos.
Referências citadas:
http://www.libertyunbound.com/sites/files/printarchive/Liberty_Magazine_November_1988.pdf
http://www.hanshoppe.com/wp-content/uploads/publications/hoppe_ult_just_liberty.pdf
https://mises-media.s3.amazonaws.com/The%20Ethics%20of%20Liberty_0.pdf
https://mises-media.s3.amazonaws.com/9_1_2_0.pdf
Sobre o Autor:
Patrick Tracanelli é Libertário tipo BSD. É conhecimento como um dos maiores expoentes do Software Livre no país, de vertente BSD Unix, fundador da FreeBSD Brasil, discípulo da escola libertária hacker e escola Unix da Universidade da Califórnia em Berkeley. É opositor ferrenho do Comunismo pregado por Stallman e todas as coisas GNU. Foi estopim da maior discussão libertária nerd já presenciada no mundo inteiro ao colocar na mesma mesa Stallman, John Maddog Hall e Dan Bernstein, por ocasião do FISL13 em Porto Alegre. É autor do hino libertário On Bernstein’s Steps. performado ao vivo por ike Steil Zieht no 32C3 em 2015. É autor da tese que a eliminação do estado é condição mandatória para a busca da Singularidade tecnologia transhumana e do indivíduo por meio de avanços tecnológicos, que é o grande objetivo final do ciclo da quarta revolução industrial.
A parte chata: É fundador da FreeBSD Brasil, atua junto a Marinha de Guerra brasileira como Private Contractor pela Britânica BAE Systems, especialista em Segurança da Informação e Princípios de Defesa em Profundidade (Defense in Depth) e Defesa por Diversidade (Diversity of Defense) aplicado à infra-estrutura e AppSec, entre outras coisas menos nobres que defender a eliminação do estado.
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