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Voltar | FundoCriptomoedas (btc) e o Teorema da Regressão de Mises.
Wed, Apr 24 2013, 20:23h - by eksffa
Hoje o bitcoin derreteu. Saiu até na Forbes. Mas não me importo, meu preço de venda é 8k dólares pra comprar uma Bombardier Can-Am Spyder, depois o outro btc que eu tenho vou carregar pro resto da vida ou até ele pagar um Mustang Mach-1. Ai eu vendo sem peso na consciência pois sei que meus netos jamais vão me julgar por vender 1btc e ter um Mach-1, nunca saberei qual deles terá se valorizado mais daqui 2 gerações, mas meus sucessores vão decidir se fiz ou não bom negócio.
Mas uma consideração que me ocorreu, agora que o bitcoin está muito valorizado, mas abaixo do que eu avalio ser o potencial real da moeda, devido a sua característica deflacionário e não impressão para promover circulação artificial para compensar os btc eventualmente poupados ou perdidos pra sempre - um tanto de gente dando rm -rf
em carteira, ou perdendo senha de criptografia, ou perdendo discos rígidos sem backup huehuehuah.
Me ocorreu então, será que bitcoin e criptomoedas de fato, deveriam mesmo ser usadas como... moedas? É uma moeda que passa nos fundamentos base da economia? Retomando o Teorema da Regressão de Mises, me perguntei, o teorema refuta de alguma forma o uso de btc e criptomoedas como moeda de fato, plausível em uma economia madura e consolidada?
Pra quem não conhece o Teorema da Regressão, um resumo rápido e didático: nenhum valor pode haver em uma moeda, e ser utilizada como dinheiro, sem que antes ela já tenha obtido algum valor como mercadoria, uma utilidade no mercado outra que não, servir como moeda. Qualquer que seja a moeda, é preciso antes ter tido algum uso como mercadoria, para só então passar a ter valor e funcionar como dinheiro.
Não, o Teorema da Regressão de Mises não refuta o btc e outras criptomoedas que herdarem a principal característica dessa: blockchain.
O Bitcoin originalmente foi projetado para ser um ledger (escrituração) distribuído, imutável, com autenticidade irrefutável, dentro da estrutura original de blockchain.
A monetização foi criada em seguida, como uma forma de incentivo, um bônus, pela validação da transação de terceiros, realizada como recompensa por quem dispunha dos recursos computacionais pra fazer essa validação de transação (em formato de fee, o fee que se paga pela entrada no registro da escrituração). E depois também como recompensa pela mineração, que permite os blocos crescerem de forma criptograficamente validada.
Ou seja o valor de fato surgiu em seguida nesse formato de bonificação e recompensa por fazer parte desse sistema distribuído de escrituração. Usar essa recompensa de fato como moeda era até uma proposta que não se sabia se iria vingar. Até que vingou. Primeiro de forma especulativa, uma troca, e depois a primeira relação espontânea de troca de mercadoria (uma Pizza) por 10 bitcoins. Provavelmente hoje já é a Pizza mais lucrativa vendida na história.
Portanto está totalmente alinhado ao teorema e atende o requisito de ter finalidade prévia como mercadoria pra outra finalidade que não moeda, originalmente. Inclusive o lastro e o valor real é indiscutível e também irrefutável pois a validação que paga o bônus e gera valor de fato, o fee, é um processo computacional não simples, e independente da capacidade computacional que tenhamos hoje, ou no futuro, essa validação somados a estrutura distribuída, tendo que ser validado por diversos participantes, computadores distintos na rede, torna evidente o valor de fato dessas "testemunhas" da validação criptográfica dos blocos e depois superblocos compondo a cadeia de blocos (block chain).
Inclusive tem quem use a estrutura do Bitcoin e de outras blockchains mais com a finalidade original, fazendo transações em valores ínfimos (valores mínimos, ou seja o fee + o mínimo) apenas pra escrever na Blockchain uma informação que precisa ser escriturada.
Na prática é indiscutível que no futuro próximo, a escrituração passe a ser mais usada, sejam em blockchains públicas como BTC ou privadas, para substituir cartórios, afinal conseguimos imutabilidade, integridade, autenticidade, de eventos históricos com "testemunhas" diversas, os nós que validam essas transações pra computar no superbloco. Indústrias diversas, como bancos, empresas, governos (enquanto existirem), e claro sociedades libertárias retomarão o uso da escrituração, apoiados por assinatura digital e checksum com algoritmo forte, derivado de criptografia quântica como os trabalhados pelo Daniel J. Bernstein, criarão um ecossistema onde blockchain, quantum cyphertexts e assinatura eletrônica validarão títulos de troca de propriedades, emancipação e resultado de avaliação de capacidade cognitiva e autodeterminação baseada na ética argumentativa hoppeana, etc.
Nesse sentido, o próprio BTC talvez não seja o mais adequado, e outras criptocurrencies surjam com mais espaço e elementos estruturados pra salvar e recuperar de forma indexada, estruturas json, etc, dados desse ledger.
Dessa forma penso que as criptocurrencies, especificamente os blockchain, vão reforçar de tempos em tempos o valor da tecnologia como mercadoria original (ledger) não intrínseco ao uso das recompensas digitais como moeda eletrônica. Ou seja na prática, creio, gerando mais lastro funcional e passando mais na prova do Teorema da Regressão de Mises, que muitas das moedas estatais que temos ditas como moedas fortes hoje, que foram e são freneticamente impressas pelos malucos Keynesianos que tem nos governos e bancos centrais. O seja o valor da mercadoria original (ledger) tende a ser sempre tão relevante do que a recompensa ou transação monetária.
Portanto, regredindo o bitcoin e criptocurrencies outras, até o Dia 0, elas servem a um propósito de mercado que não é ser moeda, servem de ledger, escrituração, com garantias de integridade, autenticação e constatação pública muito superior à séculos de cartórios e notários público.
Passa com mais honras no Teorema da Regressão de Mises, que a maior parte das moedas estatais, ou diversos outros artefatos usados como moeda no passado.
Legal né? Me convenci a segurar. Como se não fosse decisão tomada hehe.
[edit: as vezes penso que posso ser o único doido falando sozinho, pesquisei sobre quem mais encontra respostas ao Teorema do Mises, encontrei um artigo também publicado recentemente no IMB, de Fernando Ulrich. Apesar do autor ser uma pessoa do mercado financeiro e ter outras publicações na área de btc e criptomoedas, a explicação dele remete a um protesto contra o status quo, uma ostentação geek, sei lá, achei meu argumento melhor, mas que bom que existem outros, propondo respostas diversas ao Teorema, ao regredir até o D0.]
[1]https://www.forbes.com/sites/timothylee/2013/04/11/an-illustrated-history-of-bitcoin-crashes/#3a282b724039
[2]https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1579
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